Os quadrinhos, de forma caricatural, estavam principiando no Brasil, mas esse começo já acontecera no Japão, na Suiça, na Alemanha e provavelmente em outros países também; decerto, entre nós, não com o nome de "quadrinho". Mas isso não faz muita diferença. Tínhamos as "histórias ilustradas", a "Literatura em estampas" ou simplesmente os "Romances caricaturados", histórias e romances esses que vislumbravam, em termos narrativos, todo o potencial criativo de uma linguagem gráfica em surgimento, sem nome definido mas com um futuro promissor.
Nossos artistas nacionais sonharam com narrativas visuais mais complexas fundadas nos cartuns, na caricatura, no desenho gráfico e artes sequenciais. As linguagens se intercomunicaram e os quadrinhos brasileiros sofreram influência do cinema, da Literatura, das Artes Plásticas e da Música. Mesmo diante da rigidez da chamada "alta cultura" os quadrinhos, no Brasil e no mundo, exigiram maiores considerações intelectuais.
Em terras brasileiras , no ano de 1883, vivemos as aventuras de Zé Caipora, de Angelo Agostini, publicadas na Revista Ilustrada (RJ), o primeiro grande personagem do humor gráfico brasileiro. Em 1905, brincamos com O Tico-Tico (RJ, O Malho), em 1906 conhecemos O Talento do Juquinha, de J. Carlos (RJ, O Malho), em 1907, As mentiras do Manduca, de Alfredo Storni (em O Tico-Tico), ao lado desta história, outras produzidas nas décadas de 20, 30 e 40, tais como Kaximbow, de Max Yantok; Zé Macaco, de Storni; Carrapicho, de J Carlos; Reco-Reco, Bolão e Azeitona, de Luiz Sá; Brucutu em O Globo Juvenil (RJ, O Globo); No País das Amazonas, de R. Iltzke (RJ); Capitão Gralha, de Francisco Iwerten; Tinoco, O caçador de Feras, de The; O Guarani, de Jaime Cortez; Ignorabus, O Contador de Histórias, de Millôr Fernandes dentre outros. O Amigo da onça, de Péricles é o destaque da década de 1950. Ainda nesta década Clóvis Moura cria Zumbi dos Palmares e Luiz Sá cria Maria Fumaça. Na década de 60 Pererê, criação de Ziraldo, mais do que quadrinhos para crianças, faz uma profunda reflexão - sob o crivo do populismo - sobre o Brasil da época, entre 1960 e 1964, quando a revista acaba. Os quadrinhos da década de 70 foram geniais e marcaram gerações com histórias e personagens como The Supermãe, de Ziraldo; Zeferino, de Henfil; Mônica, de Maurício de Souza e a contracultural revista Balão, de Luiz Gê, Chico e Paulo Caruzo, entre outros. Os 80 assistiram ao "boom" dos fanzines e das adaptações literárias mas também à criações como Niquel Náusea, de Fernando Gonçales; Monga, A Mulher Gorila e O Menino Maluquinho de Ziraldo.
(Sheila Maués)
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