segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Storyboards de The Spirit, de Frank Miller, em volume encadernado

The Spirit Storyboards A Dark Horse lançará o livro Frank Miller - The Spirit Storyboards.
O livro apresenta o storyboard que Frank Miller criou para as filmagens de The Spirit, com quase 700 ilustrações, em conjunto com o roteiro do filme.
Além de apresentar o processo de criação do filme, para os leitores de quadrinhos, esta será uma oportunidade interessante para outro aspecto do trabalho de Frank Miller.
The Spirit estreará nos cinemas em 25 de dezembro e Frank Miller - The Spirit Storyboards será lançado em maio de 2009.
Frank Miller - The Spirit Storyboards terá 360 páginas e custará 49,95 dólares. Fique de olho.

Roteiro de Sin City 2 já está pronto

Por Sérgio Codespoti (15/09/08)

Marv A carreira de Mickey Rourke está sendo recriada graças ao filme Wrestler, de Darren Aronofsky, e a papéis como Marv, em Sin City.
Numa entrevista recente à MTV, Rourke revelou que Frank Miller já terminou o roteiro de Sin City 2 e que agora as filmagens dependem da organização do calendário do diretor e dos atores.
O ator afirmou ter muito respeito por Rodriguez e que gostaria de trabalhar com ele outra vez, mesmo isso significando ter que ficar três horas fazendo a maquiagem para se transformar em Marv.
Rourke disse que está interessado em trabalhar com bons diretores porque desperdiçou muito tempo de sua carreira.
A série Sin City foi criada por Frank Miller.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Para além de simples hobby, os quadrinhos se transformam na "religião" de muitos fãs que fazem de sua paixão uma liturgia com regras e comportamento

Para além de um simples hobby, os quadrinhos se transformam na "religião" de muitos fãs que fazem de sua paixão uma liturgia com regras e comportamentos próprios

Por Marcus Ramone (22/10/08)

Coleção O cearense M. V. R. S. L., 36 anos, segue uma rotina diária que pouco se altera. De segunda a sexta-feira, acorda de manhã bem cedo. Para isso, o despertador do celular, que toca o tema clássico do Super-Homem, ajuda no cumprimento do horário.

Logo depois, toma um banho gelado para ficar "aceso" e, na seqüência, se enxuga com uma toalha na qual o Taz, dos Looney Tunes, está estampado na famosa pose em que devora tudo que aparece no caminho.

Após tomar uma vitamina reforçada, numa caneca do Homem-Aranha, abre a porta do apartamento, cuja chave carrega um chaveiro do cultuado personagem da Marvel Comics.

Ele então desce à garagem e entra no carro - apelidado por ele e sua filha de Mingau -, o qual é ligado com uma chave acompanhada do chaveiro de metal com o símbolo do Super-Homem, que, recentemente, a Panini ofereceu de brinde na revista do Homem de Aço.

Chegando ao trabalho, ele acessa seu site preferido para se informar sobre as novidades dos quadrinhos e assuntos afins. No intervalo de almoço, aproveita para ler um ou dois gibis - afinal, a pilha de revistas "na fila" precisa diminuir.

Ao fim do dia, chega em casa, procura algo para comer na geladeira cuja porta tem afixada uma coleção de ímãs do Super-Homem, Batman, Os Incríveis e até do Menino Maluquinho, curte a família e... lê gibis, deitado na cama e iluminado por um abajur do Homem de Aço ou sentado na cadeira do quarto que serve como gibiteca e no qual há, nas paredes, quadros do Justiceiro, Pernalonga, Super-Homem e outros, além de pôsteres do Spawn, Funeral do Super-Homem e Crise nas Infinitas Terras, destacando-se uma prateleira com figuras de ação e estatuetas de super-heróis e do Recruta Zero, Garfield e Scooby-Doo.

Anatomia de um Fanboy Maluco, nerd ou fanático? Para muitos, essas e outras opções cairiam como uma luva na definição desse fã e nas explicações sobre seu comportamento. Mas, à luz da psicologia e sociologia, ele rende um rico debate que tanto poderia encaixá-lo na categoria dos que têm dificuldades no convívio em sociedade ou sofrem de conflitos íntimos por causa de uma suposta dependência, quanto dentre aqueles que fazem da leitura e do colecionismo de quadrinhos e artigos afins uma prática bastante saudável, muitas vezes estimulada em tratamentos psicológicos ou atividades educacionais.

Em conversa com profissionais das duas áreas e com leitores cheios de paixão e manias, o Universo HQ procurou traçar um perfil dos fanboys, baseado em sua identificação e relacionamento com seus personagens prediletos e em como isso afeta o seu dia-a-dia, seja no convívio social ou na busca por evitar e remediar conflitos psicológicos provocados pelo gosto por quadrinhos, bem como a concepção que têm deles os que não lêem gibis. As conclusões ficam por conta de cada um.

Mas vale registrar que no universo de 19 pessoas entrevistadas (incluindo a imensa maioria que optou por não ser citada ou “lembrada de sua existência” – segundo as palavras de uma leitora – neste artigo), 80% consideram-se literalmente viciadas em quadrinhos e compram HQs que já possuem porque foi relançada com uma nova capa ou formato diferente; e 20 % admitem já ter passado do limite alguma vez ou não se descrevem como compulsivas. Do primeiro percentual, quase a totalidade adquire produtos relacionados pelo motivo primordial de terem estampadas imagens de personagens de quadrinhos dos quais são fãs, mesmo que, de fato, não haja necessidade de comprá-los.

Vício x controle

"Evidentemente, há padrões muito normais e saudáveis em se interessar, acompanhar e colecionar quadrinhos e outros elementos relacionados à cultura pop, assim como há padrões patológicos. O critério que diferencia os dois é, principalmente, o prejuízo e a intensidade exagerada dos comportamentos", explica o psicólogo curitibano Leandro Kruszielski, atuante na área de neuropsicologia. "Administrar uma área de interesse como as HQs pode levar o fã a conhecer mais pessoas que compartilham do mesmo interesse e aumentar seu círculo de relações sociais, o que seria muito positivo. Porém, caso o gosto pelos quadrinhos o leve a abandonar as relações sociais de outros canais promovendo o isolamento, é necessário estar atento."

Kruszielski diz que um dos crivos principais deve ser o do prejuízo financeiro, para que esse comportamento não seja considerado doentio. "Se o gasto com quadrinhos leva ao corte de verbas essenciais destinadas, por exemplo, à alimentação, ao estudo e à saúde, a coisa pode estar complicada. Ou seja, deixar de comer (ou comer muito menos) para sobrar dinheiro para comprar gibi não é nada saudável. Esta lógica é aplicada também a outras áreas. Quem coleciona selos, latinhas de cerveja ou cartões telefônicos pode sofrer com traços obsessivos da mesma forma que fãs de HQs".

Mas, como fã, o psicólogo também se dá ao justo direito de fazer suas compras correlacionadas. "Tenho alguns objetos, como uma caneca do Super-Homem, um ímã de geladeira da Mafalda... coisas pequenas, pois não me considero um colecionador. Entre dois produtos similares, escolho aquele que tem relação com os personagens que gosto, mas não compraria algo só por isso", revela.

Em atitude oposta, o estudante de Letras Daniel Oliveira, de Belo Horizonte/MG, usa e abusa do que confessa ser um vício. "Se tenho que dar um ovo de Páscoa ao meu sobrinho, dou um que tenha personagens. Tiro o brinde, coloco um bombom no lugar, fecho e entrego", diz, divertindo-se. E completa: "Sou completamente viciado em quadrinhos. Tão aficionado que, quando namoro, fico empurrando gibis para as meninas, para ver se elas se empolgam".

Estatueta do Lanterna Verde O historiador Rodrigo Scama, de Curitiba/PR, é ainda mais direto quando perguntado sobre seu nível de relação com os quadrinhos. "Sou viciado. E com orgulho. Qual pessoa teria vergonha de dizer que é viciado em literatura?", desafia.

Para o sociólogo pernambucano Sérgio Coutinho, radicado em Maceió/AL, analisar o impacto dos quadrinhos sobre relacionamentos, consumismo e isolamento grupal demandaria um extenso trabalho de pesquisas de campo. "Mal conhecemos a nós mesmos a partir desse hábito".

Mas Coutinho afirma ser possível descrever conceitualmente um fanboy a partir da distinção entre leitor habitual e colecionador.

"O colecionador não costuma ter senso crítico sobre o objeto da coleção. Afinal, precisa adquirir tudo relacionado ao tema. Com isso, o consumismo será inevitável e a manipulação pela indústria será fácil sobre ele, sempre insatisfeito com a própria renda quando comparada a tudo que ainda deseja comprar, apenas porque tem um emblema de morcego ou um martelo nórdico impressos", explana o sociólogo. "Assim, ou namora uma sósia da Jean Grey (o que não seria uma má idéia) ou encontra uma companheira extremamente tolerante - talvez colecionadora -, ou poderá, subitamente, terminar seus relacionamentos. Relações afetivas sempre disputariam a prioridade com hábitos desenfreados de consumo. Há estudos sobre colecionadores (mesmo que não sejam em número suficiente acerca de quadrinhos) na psicologia social, principalmente."

"O leitor habitual, dentre os quais me encaixo, não lê Demolidor; lê Demolidor de Frank Miller, por exemplo. Assim, não sente necessidade de adquirir todas as edições encadernadas de uma mesma história que já comprou anos antes. Se não há enredo, a xícara com o símbolo do Homem-Aranha também se torna desnecessária", conclui Coutinho.

"Batsom" Esse consumismo instigado pela indústria de entretenimento e colecionáveis, a que o sociólogo se refere, pode ser conferido não apenas naquilo que qualquer geração tem visto nos apelos comerciais direcionados às crianças. Em consonância com a pouca renovação de leitores e o envelhecimento do público de quadrinhos, uma variada gama de produtos para adultos vem sendo lançada em profusão com motivos dos personagens que acompanharam o crescimento de seus fãs.

O fato de que, nesta década, tantos filmes baseados em super-heróis foram e continuam sendo produzidos, pode não ser mera coincidência. Mas esse não é o único ou o mais contundente exemplo.

Para ilustrar essa tendência, bastaria citar a WebUndies, dos Estados Unidos, que lançou recentemente uma linha de cuecas, calcinhas, bermudas, pijamas e camisolas com imagens do Super-Homem, Batman, Homem-Aranha, Mulher-Maravilha e outros heróis, exclusivamente para adultos. Ou ainda as câmeras fotográficas digitais, filmadoras, DVD players, aparelhos de som e outros eletrônicos produzidos pela norte-americana ToysRus.

"Super-Cueca" E se, quando criança, o fanboy comprava bonecos e estatuetas para brincar, hoje continua sua coleção apenas para exibi-los em uma prateleira. Por um preço bem mais inflacionado, como mostram os quase diários lançamentos que encantam e desencantam - dependendo de quem puder ou não adquirir tantos objetos de adoração.

Mas foi o mercado de HQs antigas e colecionáveis relacionados a quadrinhos, principalmente nos Estados Unidos, que há muito tempo deixou de ser um hobby para se tornar algo profissional, alimentado pelos confessos nerds endinheirados. É meio de sobrevivência dentre os que compram e revendem a preços exorbitantes - mas aceitáveis na área - e motivo de status para quem dispõe de uma fortuna polpuda o suficiente que permita comprar um exemplar de Action Comics # 1 por muitos milhares de dólares e causar inveja em outros fãs.

Encarando os quadrinhos como uma cultura fortemente enraizada e os fanboys como um público ávido por informações, foi lançada há poucos meses, nos Estados Unidos, a versão impressa da agora extinta revista online Comic Foundry. A publicação é dedicada aos fãs, mais do que ao universo dos quadrinhos, acatando que esses jovens e adultos também são consumidores de outros produtos sobre o tema e, mais do que isso, se interessam por assuntos relacionados à sua paixão.

Não por acaso, as capas da revista sempre trazem pessoas, não personagens, e em sua edição de estréia destacou a matéria especial Fanboy fashion, na qual apresentava aos leitores tudo sobre a moda inspirada nos quadrinhos.

Preconceito x tolerância

Se for verdade que os fãs de quadrinhos ainda sofrem preconceitos, também é certo que muitos deles fomentam essa aversão com atitudes pouco sociáveis.

Comic Shop "Numa visita a uma comic shop, eu e meu marido encontramos um de seus colegas de trabalho. Assim que nos viu e fizemos menção de cumprimentá-lo, ele praticamente se jogou dentro de uma caixa cheia de mangás, para se esconder. Para ser mais exata, devo dizer que ele deixou o lugar alguns poucos minutos depois, sem comprar nada, aparentemente assustado com a nossa tentativa de falar com ele", comentou a gaúcha Viviane Poitevin Melega, bacharel em Direito e estudante de Psicologia. "Talvez seja clichê dizer que um fanboy é um menino crescido que, como Peter Pan, se esconde numa terra encantada para fugir das agruras da vida adulta, mas acredito que há certa verdade nisso. Ele parece afirmar que, se a realidade é estreita demais para a envergadura de seus sonhos, a saída é abdicar de ambições comuns e mergulhar de vez no universo dos feitos extraordinários."

Também bacharel em Direito, o gaúcho V. H. L. (nome não revelado, a seu pedido), marido de Viviane, revela que ele mesmo tem preconceitos. "Vou explicar: não sou preconceituoso em relação a quem tem o hábito de leitura de gibi, mas com aquilo que podemos definir como 'fanboy-típico-que-só-lê-quadrinhos-de-super-heróis-americanos'. Tive a oportunidade de entrar em contato com alguns, acidentalmente, durante a minha vida. A opinião que formei é evidentemente preconceituosa, pois eles eram desajeitados e se achavam 'PHDs' em super-heróis, como se isso os distinguisse dos outros terráqueos".

"Era inevitável ouvir suas conversas quando eu freqüentava a comic shop aqui da minha cidade - e jamais deixei de tecer um comentário debochado quando isso ocorria, fosse para algum amigo, parente ou para a minha mulher. Em suma, tenho preconceito pois olho esse tipo de sujeito de uma forma irônica e quase hostil. Por exemplo, tenho inclinação a responsabilizá-los e à sua mentalidade tacanha pelo fato de as editoras brasileiras publicarem tantos quadrinhos de super-heróis ruins e muito pouco de HQs européias boas", concluiu.

Nerd Fashion Por outro lado, ele não se considera uma vítima. "Não sinto nenhum preconceito por ser leitor de quadrinhos. Meu círculo de amizades não é composto por fãs de gibis e todos os meus amigos que foram à minha casa já viram minha coleção e jamais demonstraram qualquer sombra de preconceito. Já falei abertamente, uma ou duas vezes, com meus colegas de trabalho sobre esse meu hábito. Mas há uma tendência, percebo, a considerarem que HQs são um mero hobby que mantive por saudosismo da minha infância, mas isso não pode ser classificado como preconceito, pois a sociedade hoje parece aceitar esses hobbies: mulheres adultas que colecionam bonecas, homens que colecionam miniaturas de carros...".

Leandro Kruszielski também afirma não ter sofrido preconceitos significativos por gostar de quadrinhos, apesar de que, segundo ele, essa forma de arte é culturalmente tachada de infantil. "Um adulto que lê apenas (e muito) Turma da Mônica pode realmente ter problemas com a maturidade ou somente estar se divertindo, lembrando seus bons momentos da infância. Já um bom leitor de quadrinhos adulto tende a avançar e ler obras como Maus, Persépolis e Gen - Pés Descalços, que de infantil não têm nada. Ao contrário, possuem um nível de elaboração cognitiva muito mais elevado do que o da grande maioria das obras artísticas de massa, como uma novela ou um Big Brother, mas ainda assim sofrem preconceito por serem 'coisas de criança'".

Da mesma forma, Rodrigo Scama não tem do que reclamar. "Os quadrinhos exercem grande influência na minha capacidade de argumentação com alunos. Sou professor e dou aulas para os calouros na faculdade. Não sofro nenhum preconceito. Toda semana me vêem com um calhamaço de gibis novos e tanto professores quanto alunos acham isso bacana. Alguns se interessam, outros não, mas preconceito é coisa rara", argumenta.

Com Daniel Oliveira sempre foi diferente. Até na infância, dentro e fora de casa, o preconceito atingia sua paixão por quadrinhos. "Sofri um monte. Venho de uma família da classe trabalhadora, sempre morei na periferia. Imagine um magricela que não se interessava por bola ou pipas, sempre com um gibi debaixo do braço. A molecada 'caía matando'. Questionavam até minha sexualidade. Para minha mãe e professores, isso era coisa de criança com retardo mental", desabafou o estudante.

O sociólogo Sérgio Coutinho relata um fato que define com perfeição a relação entre fãs e não adeptos da nona arte, quando o assunto entra em discussão. "Uma vez, numa aula, citei aos meus alunos um trecho de A Piada Mortal, de Alan Moore. Um aluno me procurou depois da aula e perguntou: 'Você lê?'. Esse era o código entre leitores de HQs, dispensando complemento à frase. Se eu dissesse que era história em quadrinhos para todos, seria um problema, mas citar um escritor inglês com boas tiradas, fica de bom tom. É estranho, para mim, que num país em que predominam analfabetos e pessoas sem o hábito de ler, alguém possa segregar alguma forma, qualquer uma, de leitura".

Arrogância x humildade
O comportamento de auto-afirmação entre seus pares é uma característica fácil de encontrar nos fãs de quadrinhos.

Cosplayers "Sempre que eu ouvia, numa comic shop, um fanboy exibir a outro, na prateleira ao lado, os seus conhecimentos de histórias em quadrinhos de super-heróis, tinha a sensação de que ele queria deixar bem claro que mulheres, com os neurônios ocupados demais com roupas e namorados, jamais teriam inteligência suficiente para captar a complexidade do assunto. Contudo, apesar de me sentir um pouco irritada com isso, tenho de admitir que esse comportamento não é essencialmente diferente do que homens também fazem com relação, por exemplo, ao futebol", disse Viviane Lisboa.

V. H. L. comenta o relato de sua esposa. "Como mulher, ela encarou esse episódio como uma tática machista, mas acho que essa característica do fanboy, de 'arrotar' todo um enorme conhecimento intrincado sobre o universo dos super-heróis, não é algo dirigido a um tipo de pessoa em especial. Ele faz isso com todo mundo", opina. "Logo após ter visto o último filme do Batman, fui acessar um fórum de quadrinhos e vi que estavam ironizando um menino. E qual foi o motivo do quase linchamento moral de um garoto por um bando de adultos fanboys? Simples: ele mostrou extremo desconhecimento do universo 'quadrinhístico' e informou a todos, animado, que tinha descoberto na web um episódio do antigo seriado do Batman, dublado por brasileiros, no qual falavam muitos palavrões. (Nota do UHQ: a dublagem cômica batizada como Batman - Feira da Fruta, há alguns anos circulando pela internet). Por alguma razão que me escapa, supostamente o conhecimento daquilo os tornava superiores aos demais mortais. Era um bando de homens barbados insultando um jovem que tinha ousado se interessar por super-herói. Bela maneira de atrair os jovens para os quadrinhos".

Exemplos como esse podem ser encontrados diariamente em blogs, fóruns de discussões e comunidades do Orkut. É nesse ponto que se revela uma faceta nada agradável de alguns fãs. Quando imbuídos do radicalismo que caracteriza muitos torcedores de futebol, partem para agressões verbais e xingamentos contra os que discordam de seu ponto de vista ou têm a ousadia de afirmar que o Super-Homem apanha fácil em uma briga contra o Hulk.

Silly Daddy Teen Fanboy Conferir importância vital a algo tão simples (embora apaixonante) quanto uma história em quadrinhos, chegando ao ponto de criar desafetos ou prometer estrangular alguém quando o encontrar na rua, simplesmente por achar que um opinante é capitalista selvagem por falar bem do Tio Patinhas ou comunista militante, por gostar de Alan Moore, atenta contra a própria lógica da diversão e do entretenimento das HQs, além de demonstrar um comportamento patológico que requer cuidados, alertam psicólogos e sociólogos.

No mês passado, um fato revelador desse desvio de conduta aconteceu no Japão e foi protagonizado por uma mulher de 36 anos que planejava matar os pais porque eles a obrigaram a se desfazer de sua coleção de revistas em quadrinhos. Mas é o lado festivo, alegre e até folclórico de um típico colecionador de quadrinhos que a MTV norte-americana quer mostrar na próxima temporada do reality show True Life. A emissora está à procura de leitores, cosplayers e fanáticos em geral por HQs, animês e filmes de ação para participar da série que vai explorar e escancarar o dia-a-dia de um fanboy e seus vícios, manias, preconceitos sofridos e infligidos, medos e, claro, a paixão que chega ao limite do exagero e da devoção.

A fila de candidatos com essas características tem tudo para ser quilométrica.

Marcus Ramone é um nerd alegre e festivo, mas sofre preconceito quando vai comprar figurinhas do álbum da Turma da Mônica e perguntam: "É para o seu filho?".


terça-feira, 20 de maio de 2008

Versão de 'The spirit' para os cinemas será lançada no Natal

Adaptação dos quadrinhos de Will Eisner tem lançamento adiantado.Filme será dirigido por Frank Miller e estrelado por Scarlett Johansson.

Do G1, com agências internacionais
Divulgação
Divulgação
Pôster oficial do longa-metragem de Frank Miller (Foto: Divulgação)

O estúdio Lionsgate decidiu adiantar o lançamento nos cinemas americanos da adaptação de "The spirit" para dia 25 de dezembro. A adaptação dos quadrinhos de Will Eisner tinha estréia prevista inicialmente para janeiro de 2009. A informação é da revista especializada "Hollywood Reporter".

A versão cinematográfica da HQ tem direção e roteiro assinados por Frank Miller (de "Sin City - A cidade do pecado").

O elenco traz Scarlett Johansson, Samuel L. Jackson, Gabriel Macht, Eva Mendes, Sarah Paulson, Stana Katic, Dan Lauria, Jaime King, Paz Vega e Louis Lombardi.

Com o lançamento previsto para o Natal, "The spirit" vai disputar a bilheteria com as estréias de "Bedtime stories", da Disney, e "Marley e eu", da Fox.

"'The spirit' é um grande filme e uma obra de entretenimento irresistível. Para nós, foi uma decisão fácil", disse o presidente da Lionsgate, Tom Ortenberg, à "Hollywood Reporter".

As datas de lançamento do longa-metragem no Brasil ainda não foram anunciadas.

Sandman: Notícia quentíssima!!!

Neil Gaiman participará da Festa Literária Internacional de Paraty

Quadrinista, uma dos mais conceituados do mundo, foi confirmado na programação.

Escritor Fernando Vallejo também foi anunciado; Flip ocorre entre 2 e 6 de julho.

Foto: Chenanceou/Wikimedia Commons
Chenanceou/Wikimedia Commons
O autor de HQs Neil Gaiman (Foto: Chenanceou/Wikimedia Commons)
Grande notícia para os fãs de quadrinhos no Brasil. O autor inglês de quadrinhos Neil Gaiman será uma das grandes estrelas da Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, que será realizada neste ano entre os dias 2 e 6 de julho. Outro nome que também foi anunciado foi o do colombiano naturalizado mexicano Fernando Vallejo, autor de "Virgem dos sicarios".
A assessoria de imprensa da editora Conrad, que publicou diversas obras de Gaiman no Brasil, e a Flip confirmaram a informação.
O inglês é autor da clássica série "Sandman" e seu trabalho vem tendo cada vez mais presença no cinema: ele foi co-roteirista no filme "Beowulf" e "Stardust" foi adaptada com Robert DeNiro e Michelle Pfeiffer no elenco. Além do trabalho como quadrinista e roteirista, ele também escreve romances.
"Sandman" gira, em linhas gerais, em torno do personagem Morfeu e do mundo dos sonhos.
Fernando Vallejo é conhecido por fazer um retrato em tons autobiográficos da violência na sociedade colombiana e por ter "renunciado" à sua nacionalidade como forma de protesto contra a reeleição do presidente Alvaro Uribe. "Virgem dos sicarios" foi lançado aqui pela Companhia das Letras.
A Flip, no litoral fluminense, teve sua primeira edição em agosto de 2003 e desde então já trouxe diversos prêmios Nobel como os sul-africanos J. M. Coetzee e Margaret Atwood e estrelas como Salman Rushdie, Paul Auster e Ian McEwan.
Neste ano os convidados são o dramaturgo Tom Stoppard (de "Rosencrantz & Guildenstern estão mortos" e autor do roteiro de "Brazil - o filme"), o escritor holandês Cees Nooteboom, a cineasta argentina Lucrecia Martel (de "O pântano"), a inglesa Zoë Heller, o americano Nathan Englander, a historiadora e psicanalista francesa Elisabeth Roudinesco, o escritor francês Pierre Bayard e o escritor argentino Martín Kohan.

domingo, 11 de maio de 2008

Os 10 mais de todos os tempos

Os dez quadrinhistas mais
importantes da história da nona arte

Eles ajudaram as HQs a crescer e a se firmar como uma arte respeitada em todo o mundo.

Por Marcus Ramone (06/02/08)

Os quadrinhos já passaram dos 100 anos de idade e continuam em forma. Uma crise ali, um obstáculo acolá, mas, ainda assim, no mundo inteiro, movimentam milhões de fãs e cifras também milionárias, influenciando outras mídias, divertindo, emocionando, educando e afetando a sociedade.

Stan Lee Para chegar nesse estágio, a nona arte contou com a apaixonada ajuda de uma imensa legião de artistas. Eles são muitos, mas poucos foram tão importantes a ponto de reformular os quadrinhos, ditar conceitos e regras para essa mídia ou fazê-la se sobressair entre as demais.

A seguir, será apresentada uma lista dos mais importantes nomes das HQs em todos os tempos, mostrando os dez destaques que ultrapassaram fronteiras e viraram lendas em todo o planeta - nos próximos dias, o Universo HQ publicará outra seleção de quadrinhistas, dessa vez uma galeria com os dez principais nomes que traçaram os caminhos dos quadrinhos brasileiros e colocaram o País entre os produtores de grandes artistas da área.

Essa lista não tem a pretensão de ser uma "edição definitiva", mas apenas um resumo criterioso dos que fizeram bastante diferença na longa e rica história dos quadrinhos, influenciaram os rumos do segmento e causaram impacto no mercado, artística ou comercialmente falando. Por isso, a qualidade das obras, embora fundamental, não foi o único critério adotado para a escolha dos nomes.

Jack Kirby Algumas das indicações são duplas criativas, pois a idéia é "fundi-los" em um único nome. Afinal, foi atuando em equipe que esses quadrinhistas produziram os trabalhos responsáveis por sua entrada no panteão das personalidades mais importantes das HQs.

Pela diferença dos gêneros nos quais os quadrinhistas se sobressaíram e pelos momentos distintos em que cada um se destacou na história da nona arte, os nomes estão listados em ordem aleatória de importância, pois a criação de um ranking poderia soar injusta diante de tudo que esses artistas ainda representam para a indústria dos quadrinhos.

Stan Lee (1922) e Jack Kirby (1917 - 1994), Estados Unidos:

Em parceria com outros quadrinhistas, Stan Lee e Jack Kirby criaram verdadeiros ícones dos quadrinhos, como Homem-Aranha e Capitão América, respectivamente. Juntos, entretanto, não apenas conceberam para a Marvel Comics outra galeria de personagens que permanecem até hoje ativos no imaginário popular - Hulk e X-Men são alguns exemplos -, como também produziram histórias que fazem parte dos maiores clássicos da nona arte e os consagraram como uma das grandes duplas das HQs.

As razões para o casamento perfeito entre os dois são fáceis de ser explicadas. Basta saber o que, individualmente, eles "aprontaram" na indústria dos quadrinhos.

Quarteto Fantástico Lee é reconhecidamente o responsável pela transformação da "Casa das Idéias" no império multimídia da atualidade e seu nome se confunde com o da corporação. Ele também deu aos super-heróis a condição de humanos normais que os aproximaram dos leitores e que ditou regras ainda hoje seguidas no gênero. E apesar de sua idade avançada, condição que, comumente, tem resultado em ostracismo para a maioria dos quadrinhistas, continua colecionando aparições na mídia, recebendo prêmios diversos, homenagens e convites para escrever HQs (inclusive para a DC Comics), criando personagens e um reality show e até participar dos filmes baseados em suas criações.

Quanto a Kirby, artistas e leitores já convencionaram falar a alcunha "rei" antes de seu nome. A inovação que ele promoveu graficamente nas HQs que produzia fez escola, influenciando as gerações seguintes de desenhistas. Ângulos cinematográficos, movimentos dinâmicos e uma mestria no desenho de máquinas são apenas algumas das características marcantes de suas obras publicadas na Marvel e na concorrente DC, para a qual também criou alguns personagens, como os Novos Deuses. Uma das atuais premiações concedidas pela indústria dos quadrinhos norte-americanos, o Kirby Awards, foi batizado em sua homenagem.

Joe ShusterJerry SiegelJerry Siegel (1914 - 1996) e Joe Shuster (1914 - 1992), Estados Unidos:

Simplesmente, eles criaram o primeiro super-herói dos quadrinhos. Mais que isso, o personagem em questão se tornou um dos maiores fenômenos da cultura pop mundial, ganhou um emblema reconhecido de imediato até por quem não lê gibi e serviu de cópia e inspiração para muito do que surgiu nas HQs depois de 1938, ano de sua criação.

Superman O Super-Homem de Siegel e Shuster é hoje uma das marcas de maior valor comercial em todo o planeta e já movimentou bilhões de dólares desde que surgiu nas tiras de jornais. E pensar que, ainda no final da década de 1930, os autores venderam os direitos do Homem de Aço por 200 dólares...

Eles deixaram de produzir as aventuras do herói em 1947. Somente em meados dos anos 1970 conseguiram vencer a longa batalha judicial contra a DC Comics por uma participação nos rendimentos da marca Super-Homem. A partir daí, passaram a receber uma pensão da editora e viram seus nomes obrigatoriamente creditados em toda HQ do personagem lançada pela editora.

Shuster já havia abandonado definitivamente os quadrinhos nos anos 1940. Siegel continuou criando outros personagens, sem alcançar sucesso, chegando a escrever histórias do Tio Patinhas para a Disney italiana.

Carl Barks (1901 - 2000), Estados Unidos:

Carl Barks Quem já não se perguntou o que seria dos quadrinhos Disney sem o Homem dos Patos?

Além de criar vários personagens - entre eles o "quaquilionário" Tio Patinhas, outro ícone da cultura popular que virou um sinônimo, neste caso o que define avareza -, o escritor e desenhista revolucionou as HQs Disney com narrativas visuais ousadas e um humor escrachado, mas também sutil e ácido, em aventuras cheias de referências históricas, geográficas ou mesmo ideológicas, que uniram crianças e adultos em uma grande fileira de fãs em vários países.

É um dos raros casos de artistas dos quadrinhos cuja genialidade não faz distinção do gênero no qual se destacaram. Ou seja, falar de Carl Barks não é só apontá-lo como o mais cultuado dos quadrinhistas da turma de Patópolis em todos os tempos, mas enquadrá-lo entre os maiores gênios da nona arte.

Tio Patinhas Autor de mais de 500 histórias em quadrinhos, na quase totalidade delas atuando em todo o processo criativo (textos, desenhos e arte-final), Barks atingiu a celebridade, curiosamente, depois de se aposentar, em meados da década de 1960. Foi quando os fãs conheceram o dono daquelas histórias cujos roteiros e artes se destacavam dos demais publicados nos gibis da Disney.

Sua influência também atingiu autores fora do circuito infantil. E dentro da turma dos patos e de um certo camundongo orelhudo, inspirou muitas gerações de artistas que seguiam seu estilo de narração ou de traço.

O mais fiel seguidor de Barks é o norte-americano Keno Don Rosa, cuja obra é baseada no que seu confesso inspirador produziu e, por isso mesmo, foi alçado à condição de mestre dos quadrinhos contemporâneos.

Osamu Tezuka Em vários países, como o Brasil, publicações especiais de luxo com as obras de Carl Barks não param de ser lançadas, perpetuando o legado do artista e ajudando as novas gerações de leitores a descobrir os quadrinhos Disney.

Osamu Tezuka (1928 - 1989), Japão:

Reconhecido como o maior de todos os mangakás, o japonês Osamu Tezuka marcou sua carreira pelo pioneirismo. Sua importância para o mangá e o animê o faz ser apontado como o "pai" moderno dessas artes.

Astro Boy E não é para menos. O Deus Mangá, como é conhecido, tornou populares os quadrinhos e os desenhos animados japoneses em seu país e no resto do mundo.

Prolífico ao extremo, é dono de uma imensa galeria de criações de sucesso internacional, mas o de maior destaque é o herói Astro Boy, surgido no início dos anos 1950 e responsável pelo estouro da cultura dos mangás e animês.

Para se ter uma idéia da influência de Tezuka, foi ele quem definiu as características que já se tornaram indissociáveis das HQs e animações japonesas: a estilização dos traços, incluindo os olhos enormes dos personagens.

Will Eisner Will Eisner (1917 - 2005), Estados Unidos:

Por seu estúdio passaram grandes nomes dos quadrinhos mundiais, como Bob Kane (criador do Batman) e Jack Kirby. Criou, em 1940, o personagem Spirit, um dos mais cultuados personagens dos gibis. Em 1978, com o álbum especial Um contrato com Deus, forjou os nomes e os conceitos de graphic novel e, mais tarde, arte seqüencial. Escreveu livros sobre a nona arte e técnicas de desenho e narrativas textuais e visuais que se tornaram verdadeiros guias para profissionais ou aficionados pelo assunto. O Eisner Awards, considerado o Oscar dos quadrinhos norte-americanos, foi criado em sua homenagem.

Um Contrato com Deus Por tudo isso e muito mais, Will Eisner é citado por artistas de várias gerações como principal influência, seja no despertar do gosto pelas HQs, como também no estilo de escrever ou desenhar.

A própria indústria dos quadrinhos deve bastante a Eisner. Suas técnicas de vanguarda em texto e ilustração, com desenhos expressivos e cheios de enquadramentos ousados e inéditos para as determinadas épocas em que o artista os apresentou ao mundo, ajudaram a mudar o conceito de que gibi é diversão apenas para crianças.

Para tirar a prova, nada melhor que ler qualquer aventura clássica de Spirit e constatar que ela parece ter sido produzida na década atual.

Alex Raymond (1909 - 1956), Estados Unidos:

Alex Raymond Outro clássico e decantado influenciador de quadrinhistas. Criador de Flash Gordon (sucesso também em filmes, seriados de TV e desenhos animados) e de outros personagens que deixaram sua marca na história dos quadrinhos, como Jim das Selvas e Nick Holmes (Rip Kirby), Alex Raymond possuía um estilo de texto fluido e um traço bastante detalhista que evidenciava uma estética própria em cenários, roupas e maquinários.

Mas a influência de Raymond foi mais além. Nas tiras de Flash Gordon, na década de 1930, surgiu a minissaia, uma peça do vestuário feminino que se tornou realidade somente na década de 1960.

Flash Gordon Também na década de 1930, o aventureiro espacial disse em uma tira que a Terra é azul vista do espaço. Essa constatação foi comprovada em 1961, quando o astronauta soviético Yuri Gagarin viu o planeta do alto e repetiu as palavras de Flash Gordon.

E não fica só nisso. A Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, se inspirou na aerodinâmica das naves interplanetárias desenhadas por Alex Raymond para criar foguetes e ônibus espaciais.

Alan Moore Alan Moore (1953), Inglaterra:

Gênio moderno dos quadrinhos, Alan Moore escreveu obras como Watchmen, V de Vingança, A Liga Extraordinária e diversas outras nos gêneros super-herói, terror, fantasia, erotismo e mais, que em maior ou menor grau mudaram a forma de se fazer ou pensar quadrinhos.

Teorias científicas ou sociais, iconoclastia, ciência, História e muitos outros elementos fazem parte do caldo do "mago bardo" inglês, mestre na metalinguagem e referências literárias.

Watchmen Premiado em vários países e cultuado como o divisor de águas nos quadrinhos de super-heróis, sua mais conhecida obra, em parceria com o desenhista Dave Gibbons, continua sendo a minissérie Watchmen, cuja destacada qualidade é cantada há mais de 20 anos e permanece influenciando as novas gerações de quadrinhistas.

Watchmen foi eleita pela revista norte-americana Time como um dos 100 mais importantes romances do século passado.

René Goscinny (1926 - 1977) e Albert Uderzo (1927), França:

Goscinny e Uderzo criaram muitos personagens, como o impagável índio Umpa-pá.

René Goscinny e Albert Uderzo Foi Asterix, entretanto, a série que fez da dupla uma das mais importantes para as HQs mundiais.

No livro Mauricio - Quadrinho a Quadrinho, escrito pelo jornalista Sidney Gusman e lançado em 2006 pela Editora Globo, o criador da Turma da Mônica apresentou uma descrição definitiva para o personagem e, por conseqüência, para a qualidade do trabalho de Goscinny e Uderzo. "Asterix é uma das coisas mais inteligentes surgidas nos quadrinhos. Eu sugiro suas histórias como um ritual de passagem do leitor mirim para o juvenil. É criativo, pesquisado, inteligente e satírico. Diversão garantida".

Protagonista de versões para cinema e TV e com fãs nos mais diversos países, é um raro fenômeno pop nesse gênero. O lançamento de seu último álbum, por exemplo, resultou em enormes filas de espera nas lojas especializadas e ações de divulgação como gigantescas pinturas de Asterix e Obelix nos aviões das SN Brussels Airlines, na Bélgica.

Neil Gaiman Poucos autores receberam condecorações de presidentes e reis pela qualidade de sua obra e significância para os quadrinhos. Goscinny e Uderzo estão nesse rol.

Neil Gaiman (1960), Inglaterra:

Quadrinhos reconhecidos como obra literária? Ganhando prêmios como o World Fantasy Award, nos Estados Unidos, nunca antes (nem depois) conferido a uma HQ?

Sandman Esses são apenas alguns dos feitos que Neil Gaiman alcançou com seu personagem mais conhecido: Sandman.

O autor foi alçado à categoria de celebridade no showbusiness e de "deus" entre os fãs de quadrinhos. Tudo porque as histórias (não apenas de Sandman) que concebeu foram fundamentais para a nona arte ser vista com olhos menos preconceituosos e mais admirados por quem não lia HQs.

Entre dezenas de outros prêmios, Gaiman recebeu nada menos que 13 Eisner Awards.

Richard Felton OutcaultRichard Felton Outcault (1863 - 1928), Estados Unidos:

Há muitas controvérsias sobre quem foi o primeiro autor de histórias em quadrinhos. Registros documentados apontam para artistas mais antigos que Richard Felton Outcault - incluindo o ítalo-brasileiro Angelo Agostini.

O que pesa em favor do cartunista norte-americano, entretanto, é que os elementos de uma HQ completa foram usados pela primeira vez nas tiras de Yellow Kid (Menino Amarelo), em 1894.

Como a representação dos balões de diálogos, símbolos máximos das HQs, que faltavam nos quadrinhos anteriores aos do personagem de Outcault, e que surgiram nas aventuras do simpático Yellow Kid. A ele também pertencem as primeiras tiras coloridas de que se tem notícia.

Yellow Kid


sexta-feira, 2 de maio de 2008

Brasileiros no prêmio Eisner


Bá e Moon: dois brasileiros no principal prêmio de HQ dos EUA

Revista "5", feita pelos dois desenhistas, concorre em uma das três categorias disputadas pela dupla

Os irmãos Gabriel Bá e Fábio Moon foram indicados em três das 29 categorias do Eisner Awards.
O Eisner -uma homenagem ao desenhista Will Eisner, já falecido- é a principal premiação dos quadrinhos nos Estados Unidos.
Gabriel Bá fez os desenhos de "The Umbrella Academy", que concorre como melhor minissérie.
A obra é escrita por Gerard Way, cantor da banda "My Chemical Romance".
Fábio Moon disputa na categoria melhor história em quadrinho digital.
Ele fez a arte de "Sugarshock!", história escrita pelo norte-america Joss Whedon.
Os dois concorrem juntos numa terceira categoria, melhor antologia, pela obra "5".
A revista independente foi feita em parceria com outros três desenhistas: a norte-americana Becky Cloonan, o grego Vasilis Lolos e o brasileiro Rafael Grampá.
A proposta é que cada um dos cinco fizesse uma história biográfica do outro.
"5" foi lançada no Brasil na entrega do troféu HQMix do ano passado.
Bá e Moon venceram em quatro categorias da premiação brasileira, a principal do país.

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A divulgação dos premiados do Eisner Awards será no dia 25 de julho, segundo o site do evento.

A lista com os indicados foi divulgada nesta semana (leia a relação completa aqui).

A maioria das obras selecionadas nas 29 categorias é inédita no Brasil.

Mas há exceções, como o mangá "Monster" -concorre como melhor edição norte-americana de material japonês- e a versão de Darwyn Cooke para "The Spirit" -como melhor série regular.

"Monster", da Conrad, volta às bancas este mês.

O lançamento de "The Spirit", da Panini, também está programado para este mês.

***

Em dezembro do ano passado, outro brasileiro conseguiu repecurssão em uma premiação norte-americana.

Ivan Reis foi eleito o melhor desenhista de 2007 em seleção promovida pela "Wizard", revista especializada em produções da indústria norte-americana de quadrinhos.

Reis faz a arte da série do Lanterna Verde, herói da editora DC Comics (mesma de Super-Homem e Batman).

Essas histórias têm sido publicadas no Brasil na revista "Liga da Justiça", da editora Panini.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Crítica: Downey Jr. dá cérebro e coração ao 'Homem de Ferro'

Nova franquia de adaptações da Marvel estréia nesta quarta no país.Além do bad boy de Hollywood, elenco tem Gwyneth Paltrow e Jeff Bridges.

Diego Assis
Do G1, em São Paulo

Quando o uniforme do Homem-Aranha já começa a apresentar sinais de desgaste pelo uso e as garras de Wolverine já não parecem mais tão afiadas quanto nos dois primeiros "X-Men", a Marvel Comics tira da manga mais um super-herói para iniciar um novo ciclo nos cinemas. Além de inaugurar uma nova franquia, "Homem de Ferro", que chega ao Brasil nesta quarta-feira (30) – um dia dos EUA – marca a estréia da gigante dos quadrinhos norte-americanos como estúdio de cinema.
Com um orçamento estimado em US$ 186 milhões, o filme dirigido por Jon Favreau (ator que viveu "Foggy" Nelson no filme "Demolidor") tem os elementos certos para se tornar um sucesso. Por seu ineditismo, vem sendo aguardado com ansiedade há décadas pelos fãs fervorosos das HQ, criada originalmente em 1963. Além disso, "Homem de Ferro" tem a também a seu favor o período de estréia, mesmo escolhido no passado para blockbusters como "Homem-Aranha", "X-Men" e "Transformers" e que antecede em poucas semanas os grandes lançamentos do chamado verão americano, que neste ano terá outros páreos duros como "Batman: Cavaleiro das Trevas", da rival DC Comics, "O incrível Hulk", da própria Marvel, além do retorno da série "Indiana Jones". E, por fim, "Homem de Ferro" tem como um de seus maiores trunfos a reunião de um elenco impecável encabeçado pelo ator Robert Downey Jr., na pele do herói metalizado.



Conhecido por sua relação conturbada com as drogas – além, é claro, de memoráveis atuações em filmes como "Chaplin" e "Assassinos por natureza" -, Downey Jr. não poderia ter sido mais apropriado para interpretar o Homem de Ferro, um dos tipos mais politicamente incorretos da editora Marvel. Na HQ, o personagem Tony Stark, alter-ego do herói, é apresentado como um playboy mulherengo, um tanto cabeça dura e louco por uma boa garrafa de uísque.


Entenda a origem do Homem de Ferro nas HQs


Com a ajuda do prisioneiro de guerra Yinsen, Tony Stark constrói a armadura que irá salvar a sua vida, em cena de 'Homem de Ferro' (Foto: Divulgação)
Herdeiro e principal cérebro por trás das Indústrias Stark, uma empresa de alta tecnologia que fornece armas de guerra para o exército americano, Stark tem uma relação ambígua (e por vezes irresponsável) com o dinheiro e o poder, o que, na verdade, esconde sua insegurança diante das finalidades às quais suas invenções podem servir. Ferido por uma de suas próprias granadas em uma visita ao Afeganistão, Stark é capturado por guerrilheiros locais e forçado a trabalhar para os inimigos. Em vez disso, constrói com o que tem à mão uma espécie de superarmadura de ferro que lhe dá poderes para conseguir escapar de seus algozes. A experiência o faz repensar os rumos das Indústrias Stark e, dali em diante, o gênio bilionário decide investir todo o seu tempo e recursos em construir algo que possa efetivamente salvar vidas, e não tirá-las: aperfeiçoando o traje de metal com tecnologia de ponta que o transformará no Homem de Ferro.

Ação com coração
Graças ao estágio avançado dos efeitos especiais no cinema, o processo de construção e aperfeiçoamento dos trajes do herói e as cenas de ação no solo ou nas alturas são um espetáculo visual à parte – em especial, a seqüência em que o Homem de Ferro é perseguido por dois caças americanos em pleno vôo, no melhor estilo do clássico "Top gun". Mas é a interpretação irônica e sempre inteligente de Downey Jr. que dá vida (coração?) ao personagem que, sem ele, correria o risco de soar apenas como um ingênuo e enferrujado herói dos tempos das HQs da Guerra Fria. Afinal quão verossímil, em pleno século 21, pode ser um bilionário que decide sair voando por aí combatendo inimigos em uma armadura pintada de vermelho e dourado? Exige bom humor e dedicação ao personagem, e isso o ex-garoto problema de Hollywood demonstra ter de sobra.

Divulgação
Jeff Bridges, como Obadiah Stane, e Gwyneth Paltrow, como Pepper (Foto: Divulgação)
Mas Downey Jr. não está sozinho na missão de transformar o primeiro "Homem de Ferro" em uma promissora franquia para a Marvel nos moldes da galinha dos ovos de ouro, a trilogia de "Homem Aranha". A seu lado está a bela mocinha, vivida pela mais que bela – competente – Gwyneth Paltrow, no papel de Virgina "Pepper" Potts, a dedicada secretária de Stark. Há ainda Terrence Howard, de "Crash", como o militar e melhor amigo de Stark Jim Rhodes, e o talentoso Jeff Bridges, que parece ter saído direto das páginas dos quadrinhos para encarnar o careca e grandalhão Obadiah Stane.

E, como não poderia deixar de ser, "Homem de Ferro", o filme, vem acompanhado de uma trilha sonora da melhor safra de heavy metal: abre com os riffs poderosos de "Back in black", do AC/DC, e fecha com a lendária e auto-indulgente "Iron Man", do Black Sabbath.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

G1 exclusivo: Alan Moore fala sobre sexo, mentiras e Harry Potter

Em 'Lost girls', quadrinista narra aventuras eróticas de Alice, Wendy e Dorothy.
Irritado com Hollywood, ele confessa que nunca viu nenhum filme baseado em sua obra. (Diego Assis -Do G1, em São Paulo)
Divulgação/Top Shelf
O escritor e roteirista de HQ Alan Moore (Foto: Divulgação/Top Shelf)

Para os seus muitos fãs espalhados pelo mundo, Alan Moore é Deus. Para alguns de seus desafetos, como o Warner Bros., estúdio que transportou obras suas como “Constantine”, “V de vingança” e em breve “Watchmen” às telas dos cinemas, Alan Moore pode ser o Diabo na Terra.
Roteirista de histórias em quadrinhos, romancista, ex-colaborador do semanário britânico “NME”, músico e - mais recentemente - estudante aplicado de magia, este senhor inglês de 53 anos é geralmente creditado como um dos principais responsáveis por levar as HQs à fase adulta.

Conheça as principais obras de Alan Moore
Nove vezes vencedor do Prêmio Eisner, o mais importante do gênero nos Estados Unidos, Alan Moore envolveu-se em disputas legais com as duas maiores editoras de HQ dos Estados Unidos, Marvel e DC, e desde então passou a produzir seus trabalhos de forma esporádica e independente.

E foi graças a essa independência que ele conseguiu botar nas prateleiras recentemente sua obra mais polêmica e ambiciosa, “Lost girls”, um mergulho nas aventuras eróticas de três das mais populares personagens da literatura infantil: Alice, de “Alice no país das maravilhas”, Wendy, de “Peter Pan”, e Dorothy, de “O mágico de Oz”. O primeiro dos três volumes da obra, caprichosamente ilustrada por sua atual esposa, Melinda Gebbie, já foi lançando no Brasil pela editora Devir.

Por telefone direto de Northampton, cidade onde nasceu, cresceu e de onde não pretende sair tão cedo, Alan Moore falou com exclusividade ao G1 sobre “Lost girls”, mangás, Hollywood, Harry Potter e até Paulo Coelho. E falou muito. Abaixo seguem os principais trechos da conversa. Se você é fã, maior de 18 anos e prefere ler a íntegra da entrevista, respire fundo, e clique aqui.


Divulgação
Capa do primeiro livro da edição brasileira de "Lost girls", da Devir (Foto: Divulgação)


G1 - Por que você escolheu Alice, Dorothy e Wendy como protagonistas de ‘Lost girls’? Acredita que já houvesse um conteúdo sexual nas entrelinhas nos livros originais dessas personagens?
Alan Moore –
Desde meados dos anos 1980 eu vinha pensando se seria possível produzir uma obra extensa sobre sexo que tivesse todas as qualidades que se pode esperar de qualquer romance ou obra de arte. Uma idéia que eu já tinha envolvia “Peter Pan”. Porque, de acordo com [o pai da psicanálise] Sigmund Freud, os sonhos de vôos são também sonhos de expressão de sexualidade. Mas foi só quando encontrei Melinda Gebbie que a idéia começou a tomar forma. Melinda disse que sempre havia gostado de ter três mulheres como protagonistas das histórias que fazia por gostar mais da dinâmica que se pode desenvolver dessa forma. Então as duas idéias se cruzaram e comecei a pensar: se Wendy, de “Peter Pan”, fosse uma das três mulheres, quais seriam as outras duas? Daí foi um passo bem curto até Dorothy, de “O mágico de Oz”, e Alice, de “Alice no país das maravilhas”. Nem tanto porque já houvesse algo de erótico nas personagens, mas pela natureza dessas três histórias, em que três jovens garotas são retiradas de suas vidinhas confortáveis e familiares e colocadas em mundos estranhos e fantásticos em que nenhuma das leis normais da realidade é a mesma, e as pessoas que encontram são bizarras ou grotescas. Pensamos que isso nos daria uma metáfora perfeita para o modo como amaioria das pessoas descobre a sua sexualidade, provavelmente quando criança - ou mesmo aos 30 anos. Entramos nesse mundo como crianças, achamos tudo estranho, populado por seres peculiares, mas, como Alice, Dorothy e Wendy, encontramos nossas respectivas terras das maravilhas.

G1 – A história e as ilustrações de “Lost girls” trazem referências explícitas a grandes tabus da sociedade ocidental, como abuso infantil, incesto e uso de drogas. E isso tudo num universo que pertence à literatura infantil. Vocês encaram esse trabalho como uma provocação política?
Moore - Honestamente, não estávamos tentando chocar ninguém. Nunca pretendemos fazer uma paródia sexual selvagem desses três livros. Primeiramente, porque temos muito respeito por esses três livros e nos certificamos de que nossas versões das personagens fossem fiéis, de certo modo, às visões dos autores originais. E são personagens poderosas. Não acho que existam circustâncias degradantes a elas no curso do livro. Mas percebemos que se iríamos falar sobre pornografia, sobre a imaginação sexual humana, então teríamos de ser honestos a respeito desse mundo. Teríamos de falar até dos cantos mais sombrios da imaginação sexual humana. E claro que há um certo pânico moral sobre isso. Não sei como é no Brasil, mas certamente nos Estados Unidos e na Inglaterra e em outros países na Europa tem uma preocupação muito grande com relação a esses assuntos e que, às vezes, se torna histeria. Ao mesmo tempo, toda a nossa cultura anda em direção de erotizar tudo, incluindo as crianças, para vender de salgadinhos a carros e bandas pop, como por exemplo as Spice Girls. Elas popularizam essa idéia de sexualização para as suas fãs, que são na maioria meninas de dez anos.

G1 – O que acha da maneira como os japoneses lidam com a sexualidade nos mangás e animês?
Moore – Não sou um grande fã do que se conhece como mangá hoje. Mas não gosto da abordagem dos japoneses para o sexo. Eles são muito reprimidos em certas coisas. Creio que ainda seja ilegal mostrar genitália ou pêlos pubianos. Com isso, o que fazem é forçar os artistas japoneses a artifícios grotescos para compensar aquilo que poderiam ser substituído com a expressão sexual. Se for para você mostrar órgãos genitais, algo que todo mundo tem, provavelmente não vai chocar tantas pessoas mostrando-os de forma realista do que as que pegarem um mangá em que o protagonista abre o seu zíper e o que sai de suas calças não é um pênis humano comum, mas uma metáfora sexual bizarra como um míssel teleguiado, uma serpente...

G1 – Soube que “Lost girls” levou 16 anos para ser concluído. É isso mesmo?
Moore -
Dezesseis ou 17. Começamos em 1989 e desde então tivemos duas ou três editoras por causa dos altos e baixos da indústria de publicação na América. Nesse meio tempo eu estava pagando Melinda para produzir as páginas porque achava importante que o projeto fosse finalizado e estávamos muito comprometidos com ele. Investimos uma parte muito grande das nossas vidas nesse projeto.

G1 – Até que você e Melinda acabaram se casando. Acha que, de certa forma, o teor altamente erotizado do trabalho acabou ajudando a relação de vocês?
Moore -
Com certeza. O livro e o relacionamento foram muito bons um para o outro. Acho que não poderíamos ter tentado fazer esse livro se não tivéssemos uma relação. Não teríamos trabalhado por 16 anos se não tivéssemos essa ligação íntima muito, muito forte. Ao mesmo tempo, acredito que o livro ajudou a relação também.

Foto: Jose Villarrubia
Jose Villarrubia
Alan Moore e sua mulher, a desenhista Melinda Gebbie (Foto: Jose Villarrubia)

Lembro que, quando começamos a fazer essa obra de pornografia, era quase um pré-requisito que fôssemos completamente honestos um com o outro sobre todos os nossos pensamentos sexuais, em um nível muito íntimo. Sei que há muita gente que se envolve em longos relacionamentos sem que nunca o parceiro o conheça tão intimamente. Mas, para nós, esse foi o ponto em que o nosso relacionamento começou, o que eu vejo como uma grande vantagem. E também podíamos ver um resultado físico da nossa relação emergindo das páginas de “Lost girls” que começavam a surgir.

G1 – Mudando de tema: diversos de seus quadrinhos foram adaptados para o cinema, incluindo “A Liga Extraordinária”, “Do inferno” e mais recentemente “V de vingança”. É sabido que não gosta de falar muito sobre isso, mas o que acha dos filmes?
Moore –
Eu nunca sequer os vi. Não assisti a nenhuma das adaptações para o cinema e não tenho intenção de fazê-lo. Simplesmente quero distância de tudo isso, porque não foram adaptações fiéis ao meu trabalho, parecem não ter nada a ver com as intenções das minhas obras. E houve alguns incidentes desagradáveis com o filme “A Liga Extraordinária” que me fizeram pensar que a melhor atitude a tomar seria recusar todo o dinheiro, entregá-lo para o desenhista e remover meu nome do filme. E isso se tornou uma constante. Só deu errado com o filme de “V de vingança”, em que, depois de eu repassar meu dinheiro para o artista, a [editora de quadrinhos] DC e a Warner Bros. decidiram que iriam usar o meu nome no filme. Um de seus produtores ridículos, Joel Silver, anunciou uma mentira irritante de que eu estaria incrivelmente empolgado com o filme e que eu estava conversando com ele e com os irmãos Wachowski. Foi o início de uma briga de quase um ano, bastante chata, em que tentava explicar, para revista por revista, que eu nunca trabalharia com a Warner de novo. Depois, no final daquele ano, eles mandaram um pedaço de papel dizendo que iriam retirar o meu nome do filme. Espero que tenham aprendido a lição e que não façam a mesma coisa com o filme de “Watchmen”.

Foto: Divulgação
Divulgação
Cena do filme "V de vingança", adaptação de graphic novel de Alan Moore (Foto: Divulgação)

G1 – Você tem idéia do quanto de dinheiro já perdeu por dispensar o pagamento pelas adaptações?
Moore -
Para o filme do “Constantine” foram US$ 70 mil, que dividi entre os artistas. No “V de vingança” sei que houve um pagamento inicial de US$ 7 mil, que mandei para [o desenhista da HQ] David Lloyd. Depois houve o pagamento final e nem perguntei quanto era. Só disse para mandar para David Lloyd. Então não faço idéia. Isso não importa. Para mim, é muito mais importante a integridade do meu trabalho. Não quero que as pessoas confundam essa bobagem de Hollywood com algo que escrevi.

G1 – O seu problema é com a adaptação da obra em si ou com Hollywood?
Moore -
Com os dois. Não estou muito convencido de que adaptações funcionem de modo algum. Sei que há exceções a essa regra. Mas Hollywood e a cultura americana em geral me parecem criativamente falidos. Não me lembro da última vez em que Hollywood tenha tido idéias novas. Fazem adaptações de qualquer quadrinho por aí, de qualquer romance, de boas séries de TV dos anos 1960 e 1970, de programas terríveis da TV dos anos 1960 e 1970, de jogos de computador e até de brinquedos de parque de diversão, como em “Piratas do Caribe”.

G1 – E sobre Harry Potter? Como mago, acredita que ele esteja representando bem a classe?
Moore -
Tentei ler um dos livros de Harry Potter logo quando saiu e ainda não havia toda essa falação. Mas não fui muito longe. Depois, quando todo mundo já estava me dizendo que eu deveria ler, tentei de novo e não avancei. Não achei muito bem escrito. As pessoas me diziam, “mas é escrito para crianças, não para você”. Quando, na verdade, eu conheço literatura infantil, conheço e adoro livros para crianças bem escritos, como os livros de Mary Poppins, que não menosprezam seu público e trazem um senso real de magia. Então, não, não gosto dos livros de Harry Potter e, como alguém para quem a magia faz parte de sua vida diária, não acho que aqueles livros façam bem à magia. O que eles realmente fazem é reforçar a velha crença de que a magia só pode ser encontrada em livros tolos para crianças, que não tem realidade ou existência no mundo real nem uma aplicação prática para a vida humana de uma pessoa normal. Também acho um pouco lamentável que ela [a escritora de “Harry Potter”, J.K. Rowling] tenha ressuscitado a escola pública britânica em boa parte da narrativa. Tenho, sim, muito respeito por seu sucesso, por sua fantástica história de vida: mãe solteira, escreve um romance e de repente se torna uma milionária. Boa sorte para ela. Eu apenas gostaria que os livros fossem melhores.

G1 – E quanto ao escritor brasileiro e mundialmente reconhecido Paulo Coelho, o que pensa de seus livros?
Moore -
Li alguns. Ele é interessante. Mas suas idéias de magia são diferentes das minhas. Lembro de dar uma entrevista a um brasileiro que disse que Paulo Coelho poderia transformar água em vinho e fazer chover com xamanismo. Não conheço tanto a obra de Paulo Coelho para saber do que o jornalista estava falando, mas sei que eu não consigo fazer nada disso. E não há muita vantagem em fazer chover na Inglaterra, temos chuva suficiente o ano todo. Também não preciso transformar água em vinho. Tem uma loja de bebidas aqui na esquina. Dá muito menos trabalho do que ter de transformar aqueles átomos de água em átomos de álcool (risos).

G1 - Você foi cotado para vir ao Brasil neste ano para a Festa Literária Internacional de Paraty. Por que não aceitou o convite?
Moore -
Eu não saio nem de Northampton, exceto muito raramente. Nem tenho mais passaporte. E tenho tanto a fazer que, se viajar, vou acabar desejando estar em casa trabalhando. Só ouvi coisas boas sobre o Brasil, mas é que simplesmente eu não viajo. Sou feliz em Northampton. Eu faço a maioria das minhas viagens dentro da minha cabeça. Posso viajar com a minha imaginação para um lugar e escrever sobre ele com os detalhes e a intensidade que fará o leitor pensar que eu morei lá por anos.

G1 – Você certamente conhece um bocado sobre a cidade de Northampton. Escreveu um livro inteiro só sobre ela, não?
Moore -
Sim, tenho uma paixão incrível por Northampton. Escrevi “Voz do fogo”, que era ambientando inteiro em Northampton ao longo de 6 mil anos de sua história. São 300 páginas, mas achei que era um livro muito cosmopolita e abrangente. Então, no novo livro que estou escrevendo, decidi focar em apenas alguns quarteirões de Northampton. “Jerusalém” fala do 1,5 Km2 em que eu cresci. Deverá ter algo como 1.500 páginas. E, provavelmente, o próximo vai ter 8 mil páginas e será só sobre a minha sala de estar (risos).

Foto: Reprodução/Gutemberg.org
Reprodução/Gutemberg.org
Afresco de Ernest Normand mostra o Rei João Sem Terra assinando a Carta Magna (Foto: Reprodução/Gutemberg.org)

G1 – E quais são os lugares que você circula em Northampton e que fazem parte desse 1,5 Km2 que estará em “Jerusalém”?
Moore – Socialmente, eu apenas ando pela cidade. Em “Jerusalém”, os lugares incluem o Castelo de Northampton, que virou uma estação de trem, mas foi o local onde viveu o Rei João, citado em Shakespeare. Foi o castelo onde Rei João se viu cercado pelos barões rebelados de Northampton e forçado a assinar a Magna Carta, primeiro documento pelos direitos humanos. Foi do mesmo castelo que saíram as Cruzadas, primeiro contato do mundo ocidental com o islã. Foi também onde um grande número de santos, incluindo São Tomás de Aquino, foram condenados. Sim, Northampton é o centro da Terra. E não sou eu quem está dizendo isso, é Deus quem diz também. A quantidade de história nessa área é praticamente inacreditável. As principais guerras travadas na Grã Bretanha, Guerra Civil, Guerra das Rosas, todas acabaram tendo suas batalhas finais por aqui. E ninguém ouviu falar desse lugar. Com tantos eventos históricos famosos, é obscuro.

G1 – Talvez seja mais conhecido como o lugar onde vive Alan Moore.
Moore - Sim, provavelmente. Me envergonho em dizer, mas considerando que o meu trabalho, no momento, parece popular. Espero que falando de Northampton eu consiga restaurar um pouco de sua glória antiga no mundo. É como uma capital alternativa da Inglaterra. Muitos dos reis e rainhas viveram aqui. Temos famílias aristocráticas, com ligações com a realeza. Em um mundo paralelo, Northampton é a capital de uma Inglaterra muito mais generosa e gentil. Na minha imaginação.